Morte em corrida: não é culpa do esporte

Óbito acontece por condição prévia do atleta e não está relacionada diretamente à corrida

Créditos: Rocksweeper/Shutterstock

Por Patrícia Beloni

A corredora de 24 anos, Taíse Bertoncello, passou mal durante a prova noturna de 7 km Cuiabá Night Run, no Mato Grosso, no último sábado (17), e morreu a caminho do hospital, de acordo com o site de notícias do UOL.

Apesar de não ser a primeira vez que isso acontece, o caso é muito raro, como explica o cardiologista Nabil Ghorayeb, médico do esporte do HCor (Hospital do Coração).

“São cerca de 4 milhões de corredores e menos de 1% morrem. E nenhum desses foi uma fatalidade ou culpa da corrida. Só morre quem tem uma condição prévia”, aponta Ghorayeb.

Segundo ele, todas as mortes que aconteceram em corridas ou depois delas até hoje foram analisadas com exames e tiveram causas específicas anteriores à prova. “Em 95% dos casos, os exames deixam isso muito claro”, diz o cardiologista.

Ghorayeb explica que o óbito pode ter ocorrido porque a pessoa tinha alguma doença não diagnosticada ou que não recebeu a devida atenção; pelo uso de drogas que causem problemas no coração; por não saber da proibição da prática por causa de uma doença já detectada; ou ainda porque simplesmente fez pouco caso.

Dentre as situações que podem levar à morte em corrida e que não estão relacionadas a problemas prévios, estão a hipertermina (temperatura muito alta) e hipotermia (temperatura muito baixa). Nesses casos, o risco de morte aumenta, independentemente se há alguma condição anterior.

“Acima de 32 graus não há corrida. Isso porque a pele já chega sozinha a cerca de 41oC. Somado ao calor ambiente, a pessoa não forma suor porque está desidratada e não consegue baixar a temperatura do corpo. O metabolismo aumenta e pode levar à condições que causam a morte”, alerta.

É importante lembrar que não é a parada cardíaca que mata. “A parada é a própria morte. Algo levou à parada cardíaca. Pode ter sido um AVC, uma embolia ou outras condições”, ressalta o cardiologista.

Toda parada cardíaca que não é revertida em três minutos leva à morte. Por isso é preciso fazer o processo de ressuscitação imediatamente. “É isso o que salva. Não adianta chamar SAMU. Toda prova, seja de rua ou de academia, precisa ter uma equipe de emergência”, alerta Ghorayeb.

Quem não pode correr?

Algumas pessoas com condições prévias não podem correr. Quem tem miocardiopatia hipertrófica (coração fica maior que o normal), displasia (anomalia na formação do órgão), doenças elétricas do coração, miocardite (inflamação no coração), e alguns tipos de arritmias cardíacas, estão vetadas.

Por isso é importante sempre realizar exames periodicamente por médicos especialistas. Ghorayeb orienta ao paciente estar sempre alerta também às condições dos exames. “Se o médico estiver fazendo exames com quatro pessoas ao mesmo tempo, por exemplo, não faça, porque é nessa situação que os erros podem acontecer”, aconselha.

O especialista também lembra que o coração do atleta é diferente do coração de quem não pratica nenhuma atividade física. Por isso, é importante procurar sempre um médico do esporte, que sabe avaliar cada condição específica.

Os exames precisam ser feitos uma vez por ano em pessoas que praticam esportes moderados e a cada seis meses para atletas de alta intensidade.

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