Novos passos na vida

A corrida ajudou Rafaela Bueno a superar a anorexia e a bulimia. E a viver e comer melhor

Por Petra Monteiro

Ela começou a correr cedo, aos 15 anos, algo incomum se levarmos em conta que boa parte dos brasileiros se encanta com o esporte depois dos 25 anos. Mas, para Rafaela, hoje estudante de veterinária, a corrida veio na hora certa: no momento de virada de mesa, de resgate. “No início da minha adolescência eu estava um pouco acima do peso e decidi emagrecer. O processo foi bem natural e saudável, mas o grande problema foi que cheguei ao peso ideal e não consegui parar”, conta.

“Desenvolvi dois distúrbios alimentares: anorexia e bulimia. Acho que foi resultado da pressão da sociedade por um padrão cruel e também porque com aqueles hábitos eu sentia que pelo menos algo na minha vida eu podia controlar: a comida”, diz Rafa, hoje com 22 anos e 60 saudáveis quilos para seu 1,70m de altura – ela chegou a pesar 48 kg na fase mais crítica.

O sinal de alerta veio quando os pais de Rafaela foram chamados para conversar com o diretor do colégio onde ela estudava. “Ele contou que eu não conseguia me concentrar, que tinha emagrecido muito e indicou uma psicóloga. Foi aí que meu problema foi diagnosticado”, comenta. Em alguns momentos, Rafaela chegou a ficar quatro dias sem comer – uma atitude que, para ela, era uma forma de poder. “Passei a restringir mais e mais a alimentação. Criei fobias alimentares que tenho até hoje, como não misturar arroz e feijão no mesmo prato. Não é algo que eu consiga explicar”, relata.

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Na fase de recuperação, seus médicos recomendaram que ela se exercitasse, o que a ajudaria a se alimentar. E assim Rafa se matriculou na academia. “Comecei caminhando na esteira e intercalando aos poucos com alguns minutos de corrida. Lembro-me de um dia específico em que falei para mim mesma que, se eu conseguia ficar dias sem comer, certamente poderia usar minha força de vontade para fazer algo realmente bom. E comecei a correr”, lembra. Em dois meses, já fazia 10 km todo final de semana. Rafaela, que não gostava de esportes quando era pequena e fugia das aulas de educação física, finalmente encontrara sua paixão.

“A corrida faz com que eu me sinta forte e capaz de qualquer coisa se me esforçar. E aprendi a amar meu corpo muito mais pelo que ele é capaz de realizar do que pela aparência“, conta Rafa, que também passou a se alimentar melhor. “Quando percebi que gostava de correr forte, passei a dar ao meu corpo combustíveis mais eficientes”.

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No começo, a corredora tinha muitas recaídas e comia pouco para o volume de treino. Rafa pecava no cardápio por causa dos distúrbios alimentares e chegou a passar mal em uma corrida de 10 km, a Vênus, em 2012. Terminou a prova em invejáveis 47 minutos, mas 30 minutos depois de cruzar a linha de chegada teve hipoglicemia e precisou da ajuda do corpo de bombeiros.

Rafaela segue os treinos à risca. “Acordo às 5h30 para correr e às vezes faço trabalho de força à noite, porque durante o dia estudo e faço estágio em uma clínica veterinária. A corrida é parte de quem eu sou. Se está na planilha, eu cumpro. Sou muito disciplinada”, afirma Rafaela, que faz questão de reforçar a importância da dieta equilibrada e do descanso para o seu dia a dia.

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Rafa perdeu a conta de quantas provas de 10 km fez, mas atualmente vive um caso de amor com os 21 km. “Sou muito fã da meia. No final parece que dei tudo de mim e que deixei todas as preocupações na rua. É uma distância na qual consigo ir rápido, mas não é velocidade de ‘morte’ como nos 5 km e nos 10 km”. A atleta corre entre 50 e 60 km semanais, mas esse volume deve aumentar. “Meus amigos e família me apoiam muito. Isso é o que me dá força para levantar e treinar”, conta.

Quer começar a correr?
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Apenas vá
Não pense muito. Comece. Dê o primeiro passo.

Não tenha pressa
Certas coisas levam tempo e não adianta pular etapas. Um passo de cada vez, um quilômetro de cada vez. Procure um profissional e confie nele e na planilha. “Resultados demoram. Tem que fazer tudo direito e não desistir no meio”. Confie, realize e seja paciente.

Crie metas
Descubra, dentro da corrida, uma distância que te agrada e aposte nela. Procure uma prova que realmente gostaria de fazer e treine para ela. Você tem que se desafiar e criar metas para continuar motivado.

Ame-se
Mais do que qualquer coisa. Ame muito seu corpo por todos os treinos que ele é capaz de realizar. Agradeça por cada conquista.

Acredite que você é capaz
Ninguém vai a lugar algum se achar que não consegue.