O monstro dos 42 km

Conheça o corredor amador que cravou 2h33 na Maratona de Chicago

Foto: arquivo pessoal.

Por Patricia Julianelli

No último domingo, na Maratona de Chicago, Vinicius Stucchi  chegou onde poucos atletas amadores sonham em chegar. Ele correu os 42 km da prova em 2h33min27. Você tem ideia do que é correr uma maratona com um pace médio de 3min39/km? Coloque sua esteira na velocidade 16 e tente correr por alguns minutos. Ele passou mais de duas horas e meia nesse ritmo.

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Vini foi o melhor brasileiro na prova e ficou entre os 100 melhores colocados. Isso mesmo: muito mais próximo da elite – e do vencedor, Abel Kirui, com 2h11min23 – que da imensa massa de amadores. Esse foi o melhor tempo em maratona da história da MPR, assessoria esportiva do treinador Marcos Paulo Reis, uma das mais competitivas do mercado. Confira a seguir alguns ensinamentos desse cara que além de correr muito, é um mestre em humildade:

Estratégia

“Meu melhor tempo tinha acontecido em Chicago, em 2014. Naquela prova, eu fiz split negativo – ou seja, a segunda metade mais rápida –, mas a diferença entre uma meia e outra foi muito alta, acima de 1 minuto. Queria ser rápido em 2016 e distribuir melhor as parciais das meias. Tive confiança para fazer isto pois mudei meu jeito de treinar, reduzindo o volume e aumentando a intensidade”.

O desafio nos treinos

“O mais difícil sempre é se privar das coisas boas da vida. A cada ano tento ter uma vida mais normal (dentro do possível), me alimentar com o básico, tomar o mínimo de suplemento, mas, mesmo assim, tenho que me privar de muitas das coisas que gosto como cerveja, pizza, chocolate. Durante a semana, não que eu não coma ou não beba, mas reduzo as quantidades, já que estar magro é fundamental para a maratona. Em 2014, eu fiz a prova com 69 kg e, em 2016, com 67.5 kg. Eu tenho 1.79 m”.

A pedra no meio do caminho

“Nós íamos em dias diferentes: eu na quarta-feira à noite e minha esposa com minha família na quinta-feira, justamente para eu poder descansar mais. Mas o furacão Matthews acabou com nossos planos. Na quarta, às 16h, fiquei sabendo que meu voo naquela mesma noite tinha sido cancelado. Liguei na companhia aérea e queriam me realocar para um voo na sexta à noite, chegando em Chicago no sábado à tarde, véspera da prova. Não aceitei.

Foto: arquivo pessoal.
Foto: arquivo pessoal.

Peguei o carro e fui para o Aeroporto de Guarulhos, mas não obtive sucesso. Liguei novamente na companhia aérea e implorei para a atendente explicando a história da maratona. Ela se sensibilizou e me realocou em outro voo na quinta-feira à noite com escala em Nova York e conexão de 5h. Cheguei em Chicago na sexta às 15h. Fui para o hotel, larguei as coisas e peguei um táxi para a Expo. O presidente Obama estava na cidade e no meu caminho… fecharam todas as ruas e eu dentro do táxi. Fiquei parado 45 min.

Resumindo, cheguei no hotel às 19h30, ou seja, o que era para ser quinta às 9h da manhã virou sexta às 19h30 e eu muito cansado. Com todas as mudanças, minha família conseguiu chegar somente na sexta às 23h. Confesso que estava muito desgastado pelo estresse da situação comigo e com minha família. O voo deles foi remarcado 3 vezes”.

A hora da verdade

Quando cheguei na metade da maratona, 50 segundos abaixo do que tinha planejado, fiquei tenso achando que tinha passado muito forte. No Km 25, o bicho começou a pegar e passei a fazer muita força para manter o ritmo. Isso persistiu até o final da prova. Só pensava em uma coisa: melhorar meu tempo (2h36min49) e não pagar o jantar que apostei com minha esposa, rsrs… Claro que também pensei no recorde da assessoria que eu treino (MPR), mas isto faz parte da brincadeira. Com muita força e dedicação, cheguei nestes 2h33!”

PARCIAIS NA PROVA
10 km 36:11
21 km 01:16:41
30 km 01:48:52
35 km 02:07:10
42 km 02:33:27