Um novo estudo quer que você pare de comer ovos; saiba o motivo

Por Elizabeth Millard, da Runner's World US

ovo é bom
Foto: Shutterstock

Talvez até mais do que carne vermelha, café ou vinho, as gemas parecem provocar uma discussão sobre se elas são uma fonte de vitaminas e proteínas repleta de energia, ou um fusível de ataque cardíaco esperando para ser aceso. Afinal, ovo é bom para você?

Um novo estudo recém publicado no JAMA fala sobre a última questão. Depois de analisar dados de quase 30 mil adultos de seis estudos que foram acompanhados duraram 31 anos, os pesquisadores concluíram que ingerir 300 mg de colesterol por dia aumenta a incidência de doenças cardiovasculares em 17% e a morte prematura por qualquer causa em 18%. Para comparação, uma gema de ovo fornece 185 mg.

Comer de três a quatro ovos por semana foi associado a um risco 6% maior de doença cardiovascular. Além disso, um risco 8% maior de qualquer causa de morte. E se você comer dois ovos por dia, você aumentaria seu risco de doença cardiovascular em 27% e seu risco de morte prematura em 34%, de acordo com o estudo.

No estudo, o maior consumo de ovos teve essas associações independentemente da idade, níveis de atividade, raça, tabagismo, pressão arterial ou níveis de colesterol.

“Nosso estudo não sugere que exista uma quantidade segura para o consumo de ovos”, disse o pesquisador-chefe Wenze Zhong, do Departamento de Medicina Preventiva da Feinberg School of Medicine at Northwestern University, nos Estados Unidos, à Runner’s World. “Qualquer nível de consumo de ovos está associado ao aumento do risco de doença cardiovascular e mortalidade. Isso porque encontramos uma associação dose-resposta. Quanto maior consumo significa maior risco.”

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Esse novo estudo é confiável e suficiente?

O debate sobre os ovos começou por causa do alto teor de colesterol das gemas. E recomendações anteriores advertiram as pessoas a comerem menos colesterol como forma de prevenir doenças cardiovasculares, segundo Alyssa Pike, gerente de comunicações nutricionais do Conselho Internacional de Informações Alimentares.

No entanto, os limites diários de colesterol foram removidos do Dietary Guidelines for America de 2015 do governo dos EUA. “Essa mudança surgiu porque o atual corpo de pesquisa sobre o colesterol na dieta não apoia a ideia de que as fontes de colesterol têm um grande impacto nos nossos níveis de colesterol no sangue”, disse ela.

Stuart Phillips, diretor do Centro McMaster para Nutrição, Exercício e Pesquisa em Saúde, concorda que o colesterol dos alimentos pode não ser tão condenatório quanto se pensava anteriormente.

“O colesterol pode ser algo para prestar atenção. Mas sua relação com doenças cardíacas e morte não é grande, e há muitos outros colaboradores”, disse ele. “Até mesmo o estudo em si mostra que não é realmente o problema.”

De fato, o estudo em si pode ter alguns problemas. E isso é algo importante a ser abordado antes de tirar conclusões radicais de suas conclusões.

“Por um lado, a quantidade de risco que é relatado aqui é trivial. E a maneira como eles calcularam isso não funciona para saber exatamente o verdadeiro o perigo”, disse Phillips.

Ele acrescentou que os próprios autores admitiram que havia limitações significativas.

Nesse reconhecimento, os pesquisadores notaram que pode haver erro de medida porque os dados da dieta foram baseados em recall. Por exemplo, imagine que alguém apenas pergunte a você: “Quantos ovos você consumiu no mês passado?”

Esses dados não apenas podem não ser confiáveis, como também só foram avaliados uma vez, afirmou Phillips. E assumiram que isso não mudou em uma média de 17 anos de acompanhamento.

Além disso, eles afirmaram que utilizaram diferentes ferramentas de avaliação alimentar. Com isso implementaram a sua própria metodologia para harmonizar os dados da dieta. Por fim, as descobertas do estudo são observacionais. Portanto, embora possam sugerir um relacionamento, elas não podem provar que uma coisa causou a outra.

Andrew Mente, pesquisador principal do Programa de Epidemiologia do Instituto de Pesquisa em Saúde da População afirmou à Runner’s World ainda que há vários problemas com o artigo que vão além da correlação de causalidade.

“A principal hipótese aqui é que os ovos aumentam o colesterol ruim. E quanto mais você come, pior fica”, disse ele. “Mas no apêndice está uma nota que eles descobriram que a maior ingestão de ovos está relacionada a uma redução no LDL, seu colesterol ruim. Então, o que está impulsionando a associação nesta pesquisa? Parece que há uma contradição com as descobertas.”

Outro ponto contra o estudo, ele acrescentou, é que as descobertas não concordam com outras pesquisas cujos resultados concluem que não há risco aumentado de doença coronariana ou derrame com maior consumo de ovos. Geralmente essa quantidade é definida como um ovo por dia.

Então deveríamos realmente colocar os ovos de lado?

Você deve usar as descobertas deste estudo para mudar seu hábito de consumo?

Com os problemas potenciais que os especialistas levantaram sobre o estudo mudar a forma como você come baseado nesses resultados pode ser prematuro.

Como já dissemos várias vezes, quando falamos de dieta, a moderação é a chave. Comer omeletes de três ovos no café da manhã todos os dias pode não ser a melhor coisa. Especialmente, se você os combinar com outras fontes de gordura saturada, como carnes processadas, e a falta de atividade física.

Mas, como Mente disse, há evidência de que um ovo todos os dias é seguro. Além disso, ele acredita que eles simplesmente não sabem mais detalhes sem mais dados.

E, como qualquer coisa no campo da saúde, o melhor conselho não será uma declaração geral. Pontos como seu estado de saúde e fatores de risco individuais também terão um papel importante.

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“Este estudo parece realmente assustador os amantes de ovos”, disse o nutricionista Maya Feller. “Acho que precisamos analisar a predisposição genética de um indivíduo para alterações na produção interna de colesterol e também no histórico familiar. Isso pode nos dar uma informação realmente boa sobre o risco de uma doença cardiovascular.”