Corredores têm mais risco de desenvolver pré-diabetes?

Por Claire Trageser, da Runner's World US

Você sabia que até os corredores têm chances de desenvolver pré-diabetes?
Foto: Shutterstock

Alicia Tembi não é alguém que deixaria os médicos preocupados. A jovem de 36 anos corre na maioria dos dias da semana, é forte, tem um peso saudável e cuida de sua saúde. Por que ela se preocuparia com coisas como pré-diabetes?

Por isso, em seu último exame físico, o médico de Alicia nem percebeu que os resultados da análise de sangue estavam um pouco diferentes do esperado. 

Felizmente, Alicia percebeu.

“Depois do meu exame físico anual, eu sempre confiro os testes que faço. Assim, garanto que nada esteja anormal”, diz ela. “Quando olhei, tudo parecia certo. Exceto meu nível de glicose, que estava alto. Comparando anos anteriores, vi que três anos atrás a taxa era 68, e agora era 90.”

Para uma pessoa ser considerada com pré-diabetes, ela precisa ter um nível de glicose no sangue de aproximadamente 100. Ou seja, Alicia estava chegando perto. “Perguntei à minha médico se isso era um problema e ela disse que sim”, lembra.

Alicia tenta manter uma dieta saudável. Ela faz cinco ou seis pequenas refeições por dia, com muita proteína, frutas e legumes. Mas…

“Eu não resisto às guloseimas. O que nunca achei que me fariam mal porque me exercito muito”, diz. “Quase sempre como algo de sobremesa. Como chocolate ou biscoito. Às vezes uma barra inteira de chocolate, dependendo do dia.”

O que pode ter causado a pré-diabetes de Alicia

Essas delícias provavelmente estavam aumentando o nível de glicose da corredora. “E potencialmente a levando para um quadro de pré-diabetes, embora vários outros fatores também determinem a condição”, diz a nutricionista esportiva Pamela Nisevich Bede. 

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O pré-diabetes é a condição metabólica que ocorre antes de desencadear o diabetes tipo 2. E está relacionado a escolhas nutricionais, prática de atividade física e peso. “Certamente não é apenas questão de alimentação”, diz Pamela.

Alicia não é a única entre os corredores a fazer escolhas alimentares não tão legais assim. “Muitos corredores caem na armadilha de que ‘se o fogo estiver quente o suficiente, tudo queimará'”, explica a nutricionista. “Essa mentalidade não significa desempenho nem saúde ideal. Enquanto você se esforça para ser mais saudável por meio dos exercícios, trabalhe também para melhorar sua dieta e fazer suas escolhas valerem. Outros corredores com quem convivo comem bem. Mas também buscam maneiras de se ajustar e melhorar para que seus objetivos entrem em um foco mais claro e possam alcançar um melhor desempenho.”

Outro problema para os corredores em particular: os géis e bebidas feitos para a prática geralmente são cheios de açúcar, Pamela afirma. 

Pré-diabetes em corredores

“Os corredores consomem maiores níveis de carboidratos para abastecer o corpo. E quando praticamos por longos períodos de tempo, muitos de nós apostamos em géis, barras e bebidas para uma dose de açúcar simples”, explica Pamela.

Ela afirma que a ingestão desses açúcares durante um treino provavelmente não causará pré-diabetes ou outras condições crônicas. Exceto, talvez, cáries. “Esse açúcar simples é colocado para funcionar como combustível. Se você é um corredor preocupado com a ingestão de açúcar ou procura evitar a necessidade de reabastecimento durante a corrida, considere a possibilidade de adotar uma alimentação low carb ou até a cetogênica. Isso vai reduzir a sua dependência de carboidratos”, ela diz. 

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Mas refeições pré e pós-treino dos corredores não devem consistir somente em carboidratos simples. “A maioria come carboidratos demais. E exageram nos grãos processados, açúcares simples e outras guloseimas”, diz ela. “Precisamos consumir combustível que faz mais do que fornecer calorias. Se você busca uma ingestão mais equilibrada e uma dieta que inclua grãos integrais, produtos frescos, proteínas magras e gorduras saudáveis, estará no caminho certo. ” Todo mundo deve reduzir a ingestão de açúcar, incluindo os corredores”, diz ela.

As diretrizes dietéticas americanas de 2015 a 2020 recomendam que os açúcares constituam não mais que 10% das calorias diárias. Para uma dieta de 2.000 calorias, isso significa que no máximo 200 calorias por dia devem vir de açúcares adicionados. São cerca de 12 colheres de chá ou 48 gramas, ou basicamente uma porção de duas xícaras de sorvete de baunilha.

Afinal, existe relação entre pré-diabetes e corrida?

Infelizmente, não há muita pesquisa sobre se os corredores são mais ou menos suscetíveis ao diabetes tipo 2, diz Jane Reusch, diretora associada do Center for Women’s Health Research da Universidade do Colorado.

Ela diz que as mudanças na dieta que os corredores às vezes fazem antes de grandes provas (supercompensação de glicogênio) podem alterar em muito os resultados dos exames de sangue. Por isso, os atletas devem prestar atenção quando realizam seus testes. 

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Além disso, como os corredores geralmente são saudáveis, Jane explica que eles podem não ser diagnosticados com tanta eficácia. “Devido ao seu peso e nível de atividade física, a pessoa não pensa que tem um problema”, afirma.

Jane acrescenta que, além de ter uma boa dieta apesar da queima de calorias, os corredores também devem estar cientes de seu tempo ocioso. “Só porque você sai correndo pela manhã, não significa que você não seja sedentário o resto do dia”, diz ela. “De fato, se você corre todos os dias, pode estar tão cansado que fica ainda mais sedentário pelo resto do dia.”

Outros fatores

Mas Reusch salienta que existem outros fatores que os corredores não conseguem controlar. E que podem levá-los a desenvolver diabetes tipo 2, como o histórico familiar. “Correr é uma ótima estratégia preventiva, mas se você tem pais diabéticos, ainda pode desenvolver a doença”, diz ela. “Os corredores devem saber que já estão fazendo algo muito bom para a prevenção e retardamento do diabetes“.

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De fato, ela diz, treino e uma dieta saudável, podem atrasar o desenvolvimento da doença.

É isso que Alicia Tembi pretende fazer agora. Depois que ela percebeu que seus níveis de glicose estavam altos, ela começou a sua mudança. “Parei de comer a sobremesa de todos os dias, e agora só como nos fins de semana”, diz ela. “Eu também tento prestar atenção aos meus lanches e corto bolachas, pipocas, coisas assim.”

A atleta diz que ela e sua médico decidiram verificar seus exames novamente em dezembro e esperam ver melhorias. “Eu gostaria que alguém tivesse me dito que isso poderia acontecer. Mas eu já deveria saber que não posso comer o que tiver vontade e depois queimar isso com exercícios.”

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