Estresse e corrida: saiba como reverter este quadro

Por Samantha Lefave

estresse e corrida
Foto: Shutterstock

Em um relato para a Runner’s World, a repórter Samantha Lefave relatou o período da sua vida em que estresse e corrida eram sinônimos. Por mais que este tema pareça pouco usual, muitas pessoas podem se identificar com as palavras dela. Leia a seguir a matéria publicada na revista.

Estresse e corrida: como foi que isso aconteceu?

Estou de pé na pequena cozinha do meu apartamento encarando a geladeira. Não estou remexendo em busca de alimento, estou olhando para algo que está na porta: uma planilha para a maratona.

Ela tem duas páginas. Eu não consegui colocar 16 semanas de treino em uma folha; só isso já me deixava ansiosa a cada manhã. Ela estava coberta de rabiscos feitos com caneta vermelha. Esquadrinhar o mar de vermelhos me deu vontade de voltar para cama em vez de colocar o tênis.

Não tenho certeza de quando exatamente minha relação com a corrida ficou tóxica. No lugar de aliviar o estresse e me ajudar a encarar um dia ocupado, ela está começando a trazer ainda mais estresse. Colocar o despertador para uma corrida matinal me causa mais pavor que animação, e preparar as roupas para o treino do dia seguinte agora me produz bufadas de exasperação.

Todos esses sinais podem apontar para um problema, e David Siik, diretor de corrida e criador do programa Precision Running da Equinox, em Los Angeles (EUA), fala que isso tem a ver com, bem, comigo. “Corredores cometem o erro de acreditar que correr é apenas uma questão de emoções”, diz. “Mas há duas partes distintas e igualmente importantes: suas emoções ao redor da corrida e sua atitude em relação à corrida – e elas estão conetadas.” Se correr parece estressante, isso é uma emoção, que provavelmente ocasionou uma mudança de atitude.

Isso faz sentido. A positividade induzida pela endorfina não é o único sentimento associado à corrida. Há a culpa que me envolve quando perco a festa de aniversário de um amigo por causa de um longão, a frustração de não alcançar o ritmo e o estresse por gastar muito em outro par de tênis.

O que fazer?

Todos esses exemplos têm uma conotação negativa porque, no momento, tive uma atitude negativa em relação à corrida. O que faz com que eu me sinta estressada – e isso afeta mais que apenas o meu cérebro. “Estresse em curso, como o de 16 a 20 semanas de treinamento para uma maratona, pode afetar de verdade seu sistema nervoso. Isso pode ocasionar em um aumento nos níveis de cortisol e mudança dos níveis de testosterona”, diz David. E pode desencadear uma espécie de efeito dominó, ocasionando outros problemas psicológicos ou doenças sérias de saúde, incluindo ansiedade, dores musculares e enfraquecimento do sistema imunológico.

De fato, um pequeno estudo publicado em 2013 na revista científica Neuro Immuno Modulation revelou que maratonistas amadores que tinham experimentado altos níveis de percepção de estresse, ansiedade e preocupação estavam mais suscetíveis a uma menor imunidade, o que é comum durante períodos longos de treinamento. E um estudo de 2012 publicado na revista científica Medicine & Science in Sports & Exercise descobriu que estresse psicológico crônico realmente diminui a recuperação muscular após uma fase de exercícios de resistência.

Como treinar a mente para correr melhor

“Estresse ao redor da corrida [pode ser] um ciclo doloroso”, afirma David. Mas esse ciclo pode ser interrompido. O segredo está em descobrir o que está provocando sua atual atitude negativa em relação à corrida e tomar providências ativas para solucionar o problema. Saiba como aqui:

– Lesões

“Correr é, por definição, uma forma de estressar o corpo”, diz Kate F. Hayes, psicóloga do esporte e diretora da The Performing Edge, em Toronto, no Canadá. O que pode ser uma coisa boa – até as lesões começarem a surgir. Quando isso acontece, você tem duas opções: dar uma diminuída e tratar o problema corretamente; ou resistir e continuar, porque não pode perder aquela oportunidade de bater seu recorde pessoal.

Escolher a segunda opção significa que você poderá facilmente adotar uma atitude rancorosa. “Mas a forma de tornar a corrida um estresse positivo é seguir uma planilha efetiva para seu corpo em determinado momento em particular”, fala Kate.

“Uma maneira de fazer isso é prestar atenção em como seu corpo se sente quando você não está correndo”, sugere David. Como você se sente quando sai da cama de manhã? É diferente de quando acorda nos dias em que tem que correr? E como se sente quando se senta para assistir a um filme – você é incapaz de vê-lo inteiro sem ter que se levantar para alongar?

Essas coisas podem te ajudar a descobrir o que está causando a lesão. Quando você souber poderá tomar atitudes para ajustar as coisas. David recomenda estabelecer um novo objetivo de corrida para aliviar o problema. “Talvez seja uma menor rodagem, exercícios de alongamento ou correr na esteira durante algumas semanas”, diz. Fazer isso pode ser realmente divertido e esclarecedor. Além disso, reduz o estresse pois você tem medidas práticas para resolver o que está te fazendo associar dor e corrida.

– Tempo comprometido

Inscrever-se em uma prova é a parte fácil, mas encontrar tempo para treinar apropriadamente é difícil. “Não ter tempo suficiente faz a corrida parecer uma obrigação, mais que uma forma de aliviar o estresse”, diz Jeffrey Brown, professor assistente de psicologia da Escola de Medicina de Harvard e autor de The Runner’s Brain [O Cérebro do Corredor]. O que pode alimentar emoções negativas porque, atenção, nem todos aqui somos profissionais. Se você não recebe um salário por correr; não deve ter a sensação de que está sendo forçado a fazer isso.

Se tiver essa sensação, então Jeffrey diz que você precisa decidir se possui tempo para correr. Então, elimine barreiras estratégicas que possam estar ocupando seu tempo para suar a camiseta. Talvez cozinhar demande muito tempo e não sobre espaço para encaixar uma corrida. Pode ser uma solução viável experimentar um serviço de comida saudável a domicílio; ou mesmo reservar algumas horas do domingo para preparar refeições para a semana. Resolver problemas de outros aspectos da vida pode acabar ajudando a mudar sua atitude em relação à corrida e, então, pensar em uma série de tiros na subida não será tão intimidante.

– Metas

Quando seus objetivos são influenciados por outras pessoas, você pode acabar se esquecendo da razão primordial pela qual corre. Pressões externas acontecem em todo lugar, e a comunidade de corredores não é exceção. O que pode causar estresse ou aborrecimento; uma vez que seus treinos podem começar a parecer entediantes e algo que você precisa eliminar de uma lista de afazeres, em vez de ser uma coisa prazerosa. “Muitos corredores se chocam com o ‘muro da monotonia’ quando repetem treinos para o mesmo tipo de prova”, explica David, “como fazer uma segunda maratona, em vez de mudar para uma prova de 10 km e focar na velocidade e não na resistência”. Ele completa:“Acho que corredores são exploradores por natureza, então, quando perdem esse sentido de exploração, as coisas podem ficar sem graça, e o mesmo acaba acontecendo com a atitude.”

6 dicas para determinar seu volume de treino

Antes de preencher seu próximo formulário de inscrição, Jeffrey recomenda pensar no motivo de você estar correndo. “Objetivos grupais são legais, mas podem não ser motivadores o suficiente ao longo do tempo”, diz. Se seu coração não o adotar; ou se sua atribulada agenda tornar treinar tão difícil que você acaba com medo dos seus futuros quilômetros, pense na possibilidade de mudar para uma distância diferente. Ou, quem sabe, de experimentar um novo formato de prova (corrida na lama, alguém se anima?) para redescobrir o sentido de aventura.

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