Superação na veia

Como a corrida entrou na minha vida

Por Deborah Aquino

Eu sempre gosto de dizer que a corrida me salvou em várias fases da vida. E ela entrou na minha rotina em um desses momentos complicados. Quando me mudei para São Paulo, era extremamente baladeira. Saía de quarta a domingo e, como acordava cedo pra trabalhar, não tinha muita disposição para os exercícios. Nessa vida de balada, conheci uma pessoa com quem namorei durante muito tempo. Ele era exatamente como eu, então não tinha nenhum incentivo para começar a malhar.

Com as saídas, bebedeiras e comilanças, fui engordando, a autoestima foi pro chão, mas e daí? Eu namorava, né? #quemnunca kkkk Só que um belo dia, aconteceu: fui “trocada”. Entrei numa fossa gigante (a história é longa!), mas foi aí que deu o start de que eu precisava para tomar uma atitude em relação à minha saúde física e também emocional!

Depois do pé que tomei do meu ex, resolvi que precisava mudar minha vida. Não queria mais perder meus domingos com ressacas; queria amigos novos e uma pessoa legal do meu lado, que compartilhasse desses mesmos desejos.

Mas o que eu podia fazer, se nem de bicicleta eu sabia andar?  Precisava conhecer gente nova e ficava pensando como ia fazer isso de uma forma mais saudável. E esse era um dos inconvenientes. Dentista é uma profissão solitária, você atende 30 pessoas num dia, mas não estabelece vínculos de amizade.

Foi então que resolvi entrar em uma academia perto de onde morava. E lá conheci uma menina que era alucinada por corrida. Ela ia sempre no mesmo horário que eu e começamos a estabelecer um laço de amizade. Contei para ela toda a minha história. Na época, cada vez que falava do término me acabava de chorar. E ela me ajudou demais.

Um dia estávamos conversando e ela me disse: “Você deveria fazer uma corrida. Só uma! Você vai ver que energia maravilhosa! E que tem mais gente bonita lá do que na balada!” Meio sem jeito, resolvi aceitar o desafio.

216643_1004940691716_2739_nEla me disse que teria uma corrida em novembro, de 10km e que se eu me inscrevesse ia mudar a minha vida. Detalhe: estávamos em setembro, eu nunca tinha corrido nem 5 km, mas mesmo assim resolvi aceitar. E foi assim, meio sem jeito, que a corrida entrou na minha vida.

Sabe aqueles dias que você nunca vai esquecer? Pois esse foi um deles. Era feriado aqui em São Paulo, eu morava razoavelmente perto da largada – mais ou menos uns 2 km – e resolvi ir andando (primeiro erro!). O dia estava lindo, céu azul, prenúncio de um calor infernal! Tinha combinado com a minha amiga de encontrá-la na retirada dos chips. Quando cheguei perto da largada e vi aquele mar de gente, aquela música alta às 6h da manhã, achei até que estivesse no lugar errado!

Mas que energia!!! Fui me aproximando, olhando todas aquelas pessoas, umas concentradas, outras nem tanto, mas todas muito felizes! Tinha gente de todas as idades, de todos os tipos físicos, gente linda (!!), gente que eu via que, assim como eu, não sabia o que estava fazendo ali, e outros que tinham aquele olhar determinado, que pareciam estar em outro mundo.

Encontrei a minha amiga e ficamos por ali esperando a largada. Eu não tinha relógio, frequencímetro, não sabia o que eram 10 km. E então, foi dada a largada! Era um mundo de gente. Até eu passar no tapete que marcava o tempo, foi uma vida. Mas quando passei ali, não sei explicar o que aconteceu. Acho que foi a energia da prova, ver todo mundo correndo, saí feito um cavalo paraguaio acelerando!

Quando passou o segundo km eu já estava simplesmente morta! E pensava: “Meu Deus, ainda tem mais oito?”. E sofri! Um calor, um sol, eu ficava me perguntando que “diabos” estava fazendo ali. Terminei os primeiros 10 km da minha vida em 1h28min, junto com várias senhorinhas e com uma ambulância logo atrás! Mas mesmo tendo sofrido horrores, a partir daquele dia, há 12 anos, decidi que era o esporte que eu queria para mim.

Um esporte democrático, que beneficia quem corre rápido, quem quer performance, quem corre devagar, quem vai pra se divertir. Naquela época, a corrida tinha um sentido incrível na vida de muitas pessoas que conheci. O que eu procuro, desde então, é sempre me lembrar do por que comecei a correr, para não me perder na vaidade de fazer tempos lindos. E ser grata, cada vez que coloco um par de tênis, por tudo que  a corrida me trouxe (e traz!) de bom!

* A foto do meio não é da primeira prova, mas, como vocês podem perceber, sou do tempo em que se corria com top de academia amarrado no pescoço e short de algodão! Velha guarda total!

debs2_apresentaçãoDeborah tem 40 anos e corre há 13. É dentista de formação, corredora por paixão. Faz 5 km em 22min12, 10 km em 43min12, 21 km em 1h39 e 42 km em 3h26. Mas a corrida para ela é muito mais que números: “Por ela conheci meu marido, que me deu minha filha. Ela me salvou de uma depressão, me ajudou a entrar em forma e foi minha válvula de escape durante a quimioterapia para um câncer de mama em 2014. E me rendeu alguns poucos e bons amigos”.