Maçã verde

Missão cumprida. Nova Iorque era um sonho antigo, da época em que pensava que seria muito difícil conseguir treinar para correr maratona. Bem, na verdade, hoje não é nada diferente: tenho certeza que é muito difícil. Dessa vez pude conferir de perto, com todos os detalhes que essa prova é também um grande espetáculo, embora dor e prazer se alternem frequentemente durante o percurso.

Fazer uma “major”, qualquer uma, implica ter à disposição uma equipe imensa de profissionais e voluntários cuidando dos mínimos detalhes. Em NY, é surpreendente o carinho que é dispensado a cada corredor por esse exército do bem. Desde a expo até o pós-prova, que inclui encarar uma bela fila no Central Park no dia seguinte para gravar a medalha e conferir a coleção “finisher”, tudo o que se vê são sorrisos. Se você corre abaixo de 5 horas, vê seu nome na edição do New York Times. Esse ano, publicaram até quem fez em 5h14min, mas eu acho deveriam publicar todos, até o último nome….

Todo mundo que se digna a correr a prova sabe das subidas, do percurso técnico, da dificuldade de acesso à largada. A empolgação do público realmente contagia e ao mesmo tempo, impõe a necessidade de ficar zen, contemplativo, sem se deixar levar e tentar ser mais rápido que as próprias pernas.

Atravessando os 5 bairros, encontramos um pequeno resumo do que é nosso mundo. Povos e países dos mais distintos fazem parte da festa, uma espécie de “It’s a Small World”, aquele brinquedinho da Disney com uma musiquinha grudenta que você passa de barco e ouve várias línguas, numa celebração da união entre os povos. Ao passar por todos esses “pequenos mundos”, o corredor se vê um pouco como o astronauta a contemplar o planeta em todo o seu esplendor. Emociona.

Até aí, tudo bem, distração é que não falta. Só que o corpo não imaginava que as subidas e descidas – mais ou menos óbvias – fossem tão cruéis. Fora as pontes, há inúmeras e sorrateiras variações de altitude. Ao chegar na Quinta Avenida, a sensação é de sair de dentro de um liquidificador. E o barulho do povo em volta só reforça o sentimento. Central Park. Mais ondulação. Mais barulho. Daqui a pouco chega. Quantas milhas? Multiplica por 1,6. Última subida – mais uma? No final, uma descidinha. Foi lindo, mas tenso: 4h53min de contrastes incríveis. E a constatação que, para evoluir, toda disciplina é pouco. Mas a medalha é linda. Depois de 2012, foi a redenção. Bom demais. Não é à toa que dizem que, se a pessoa tiver que escolher uma maratona para fazer na vida, deve tentar NY. Mas treine muito em ladeira antes, viu? Palavra de Pangaré.