Cilada

No papel, é molezinha. Criar uma rotina, segui-la, priorizar o horário para os treinos,: tudo fica mega tranquilo no momento do planejamento. Afinal, não pode ter erro, existe uma prova lá na frente. Mas e se eu não completar? E pior: fazer bem abaixo da meta?! Só de imaginar as desculpas ao reagir aos olhares piedosos de amigos e familiares dá até uma canseira… Agimos como se fôssemos uma ação negociada em bolsa em época de alta volatilidade e não aceitamos ser “chacoalhados pelo destino”. Entretanto, precisa ser assim?

Depois de Nova Iorque, me bateu uma certa deprê. Embora não tenha me preparado adequadamente para cumprir a meta de tempo, fiquei chateado com o resultado. Natural, certo? Não mesmo. Criar expectativas fora da realidade machuca o ego. Treinou, corre. Não treinou? Esquece. Gostamos de imaginar que a lógica pode ser desafiada e é aí é que mora o problema. Quando fazia o meu relato da prova só ouvia elogios, muitos sorrisos, vários “que legal que você finalmente fez essa mara!”. E eu, com um sorriso amarelo, agradecia, mas me sentia um fracasso por dentro. Como se correr 42 km fosse sinônimo de derrota!

De repente, comecei a perceber que poderia reprogramar aquela sensação, reconhecer a dificuldade e me perdoar por não estar apto ao próprio desafio em que me coloquei. São as armadilhas que fazemos com nós mesmos. É como se, antes de jogar na Mega Sena, eu já fizesse um milhão de planos, marcasse viagens incríveis, usasse todo o limite do cartão e, depois do sorteio, meu mundo fosse ao chão! Dramático? Sem dúvida! Mas quantas vezes não fazemos isso? Aprendemos com a dor e com o amor, mas temos que levar muita pancada até percebermos que o caminho do coração é bem mais bacana.

Tem mais. Cada um sabe da sua vida. Temos o poder de nos sentirmos bem ou mal. Em qualquer situação. Autocontrole. Motivação interna. Meditação. Que não deixemos que a percepção do outro nos torne menos corredores do que somos. Que nossa miopia não nos torne reféns de metas ilusórias. Que saibamos que, não importa a distância ou o tempo, quando nos dispomos a colocar um pé na frente do outro já estamos seguindo na grande corrente de positividade do universo. Nosso destino é sempre mágico, não importa a ordem de grandeza.