Kenenisa Bekele fica a 2s do recorde mundial em Berlim

Por Roger Robinson, da Runner’s World US

Resultados da Maratona de Berlim 2019
Foto: Reprodução Instagram / @berlinmarathon

Os resultados da Maratona de Berlim 2019 foram surpreendentes. Kenenisa Bekele perdeu por pouco o épico recorde mundial de Eliud Kipchoge — apenas dois segundos o separaram do feito neste domingo (29). Mesmo assim, ele venceu a prova em 2h01min41.

À frente de Kipchoge durante boa parte da corrida, Bekele conseguiu se recuperar de um mau momento lá pelo quilômetro 31. E deixou no chinelo toda uma nova geração etíope ao chegar próximo de um recorde mundial que ninguém imaginava poder acontecer. 

“Eu não desisto. Tive lesões sérias há apenas três meses atrás. Mas estou feliz por ter feito o meu melhor”, disse ele após a corrida. “Eu tive uma lesão nos músculos posteriores da coxa no 31 km e tive que desacelerar. Mas depois me recuperei e consegui retomar a liderança. Eu sabia que estava muito perto do recorde, mas não consegui. Antes da corrida, eu não esperava isso, então estou muito feliz por tirar 80 segundos do meu RP.”

Confira os resultados da Maratona de Berlim 2019 aqui.

Resultados da Maratona de Berlim 2019

Os etíopes, aliás, dominaram o pódio. Birhanu Legese ficou em segundo (2h02min48) e Sisay Lemma em terceiro (2h03min36).

Legese, que venceu a Maratona de Tóquio este ano, parecia que iria garantir a corrida, e talvez o recorde mundial, quando Bekele perdeu o ritmo no 31º quilômetro. O atleta deu um belo gás, enquanto Bekele parecia pesado e nervoso. Contudo, logo no quilômetro 34, Bekele voltou ao seu ritmo e ultrapassou Sisay Lemma, ficando em segundo lugar. Mais cedo do que parecia possível, Bekele deixou Legese para trás e foi para a liderança pouco antes do 35K.

“Kenenisa é uma atleta muito forte. Ele teve um problema com a perna, recuou e depois voltou a crescer. E foi isso. Mas bati meu recorde pessoal”, disse Legese.

A partir de então, foi “Bekele contra Kipchoge”.

No quilômetro 40, às 1:55:30, Bekele estava dois segundos à frente do que Kipchoge estava há um ano antes. Mas, ano passado, Kipchoge revelou uma de suas armas secretas: foi acelerando de quilômetro em quilômetro. Seu pace foi de 2:54/2:55 para 2:48/2:44 entre os quilômetros 40 e 42. Bekele, apesar de toda a velocidade, não conseguiu imitá-lo.

Passou pela estrada aparentemente interminável entre o Portão de Brandemburgo e a linha de chegada observando o relógio. Mas infelizmente ele não conseguiu adicionar esse recorde mundial de maratona aos dos 5.000 e 10.000 metros que detém há 15 anos.

“As pessoas estavam dizendo que minha carreira acabou. Eu queria mostrar que ainda posso correr bem. Eu sabia que, embora meu treinamento não fosse perfeito, estava indo muito melhor do que no ano passado”, disse ele. “Acredito que posso ir mais rápido. E talvez até eu corra a maratona olímpica — mas ainda não decidi. ”

História de Bekele

Três anos atrás, na Maratona de Berlim de 2016, Bekele perdeu o recorde mundial da época por seis segundos. Ontem, por dois. Seu consolo — além de ganhar 40 mil Euros por ser o vencedor da prova e mais 30 mil por fazer um sub-2h03min30 — é um lugar na história. Afinal, ele fez a segunda maratona mais rápida do mundo. Isso garante seu status como o maior corredor de distância de todos os tempos, mais que Kipchoge e Haile Gebrselassie. Ao todo, Bekele soma três medalhas de ouro olímpicas, cinco campeonatos mundiais, dois recordes mundiais ainda em pé, 11 medalhas de ouro em mundiais de cross-country e a prova de ontem. 

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A capacidade de Bekele de se recuperar das dificuldades está mais do que comprovada. No Campeonato Mundial de Cross-Country de 2008, em Edimburgo, ele perdeu um sapato na lama da Escócia. E voltou para desenterrá-lo, abrir caminho e vencer. Em 2007, sua noiva sofreu morte súbita durante um treino com ele, um trauma que ele também conseguiu deixar para trás. Ele agora é casado e tem três filhos.

Presença invisível

Desde o início da prova de ontem, Kipchoge era uma presença invisível. O pelotão de atletas que liderava a primeira divisão replicou exatamente o que o recordista mundial fez há um ano atrás nos 5K iniciais: 14min24. Surpreendentemente, eles até aumentaram nos quilômetros seguintes, chegando aos 10K em 28min53, oito segundos antes de Kipchoge em 2018.

Destemor? Loucura? Não sabemos. Eles mantiveram a vantagem de oito segundos até os 15K (43min29 para Kipchoge, 43min37 para os atletas deste ano). Na metade do caminho (1h01min05), ainda estavam à frente. Era como se a expressão “split negativo” nunca tivesse passado pela cabeça de ninguém. Cinco atletas disputaram a segunda metade da Maratona: Bekele e Legese, parecendo dispostos, além de Lemma, Leul Gebrselassie (todos etíopes) e o queniano Jonathan Korir.

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Quando Gebrselassie e Korir recuaram, sobraram apenas três. Quando Bekele perdeu o ritmo, parecia que tudo terminaria daquele jeito. Mas todos estavam errados. Ninguém esperava que os resultados da Maratona de Berlim 2019 fossem tão emocionantes. Ninguém sequer pensou em um recorde mundial. Mais uma vez, todos estavam errados.