Mais que uma vitória

A disciplina e o amor pela corrida ajudaram Augusto Cesar Alves a lutar contra um câncer

Por Petra Monteiro

A paixão pelo esporte cresceu junto com o corredor Augusto Cesar Alves, hoje com 56 anos. O representante comercial, nascido na Tijuca, Rio de Janeiro, pratica natação e corrida desde a adolescência. Em 2008, já treinando com uma assessoria esportiva, estreou no mundo das provas. Em 2009, veio a primeira maratona. “Aconteceu de maneira muito curiosa. Queria me inscrever para a meia maratona que era dentro do mesmo evento, mas as inscrições já haviam terminado. Eu não quis ficar de fora, então comecei a treinar para a maratona”. Depois da estreia, viriam outras seis provas de 42 km.

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Na fase de treinos para a Maratona do Chile, sua terceira, em abril de 2011, veio o baque: Augusto foi diagnosticado com câncer no pâncreas. “Descobri um tumor no reto que foi retirado com sucesso, mas, quando dei continuidade aos exames, fui diagnosticado com câncer no pâncreas. Um tumor não tinha relação com o outro, o que é raro”. Mesmo após a descoberta da doença, Augusto não desistiu de correr a maratona para a qual treinava há dois meses. Todas as despesas da viagem estavam pagas e, depois de conversar com o cirurgião, ele decidiu encarar. Não mudou uma vírgula na planilha de treino até o dia do embarque. “A cirurgia estava marcada para depois da prova, e convenci o médico de que aquilo seria o melhor para mim. Se era para eu morrer, que fosse em grande estilo”.

A maratona foi um grande desafio, talvez até maior do que Augusto imaginava. O corredor passou mal, teve vômitos e dores no corpo durante o percurso e, no Km 32, teve que ser atendido pela equipe médica do evento. Para que não fosse retirado da competição, não contou sobre a doença e terminou a prova em 5h30. “Acabou sendo a corrida mais emocionante da minha vida, justamente pelas dificuldades que enfrentei”, lembra.

A cirurgia para a retirada do tumor estava marcada para o final daquele mês de abril. Mas, quando chegou ao Brasil, após conversas com o cirurgião, Augusto foi liberado para mais um desafio: a Meia Maratona da Ponte Rio-Niterói, na semana anterior à operação. “Terminei a prova com muita dificuldade, talvez mais do que a Maratona do Chile. O calor era sufocante. Mas a essa altura meus médicos já estavam me apoiando em tudo o que eu fizesse”, diz. Na semana seguinte, realizou a cirurgia e perdeu 80% do pâncreas, além de retirar o baço e o apêndice. Passou por inúmeras sessões de quimioterapia e perdeu 14 kg.

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Depois dos três meses iniciais de tratamento que seguiram a cirurgia, Augusto passou a se alimentar melhor e, assim que se sentiu mais forte, quis sair de casa. “Resolvi colocar um shorts e, sem falar com ninguém, fui dar um trotezinho pela orla da praia. Consegui correr 6 km”, conta, orgulhoso. Seis semanas depois, fez a inscrição para a Meia Maratona Internacional do Rio. Os amigos acharam aquilo tudo uma loucura, mas os oncologistas Alexandre Coury e Christiane Couri Freire deram apoio irrestrito. “Completei a prova em 2h08”, relembra.

Durante o tratamento, Augusto correu mais duas meias maratonas: a de Punta del Leste, no Uruguai, e a Maratona de Búzios (RJ), que fez em dupla com o amigo Rodrigo Periquito (cada um correu 21 km). “A prova de Búzios foi a mais difícil. O trajeto era repleto de subidas e com muita areia, o que foi muito desgastante. Mas o que mais me prejudicou foi correr no domingo tendo realizado a quimioterapia na sexta-feira anterior. Senti muitas dores. Mesmo assim consegui terminar a prova”.

Segundo a doutora Christiane, mesmo diante dos efeitos do tratamento, Augusto persistia firme nos treinos, já que a corrida para ele simbolizava a vida. “Eu não consegui fazer nenhum longão durante o tratamento, a quimioterapia não me dava tempo para isso. Eu apenas fazia uma mentalização de que iria completar e largava na cara e na coragem”, conta Augusto. No mês seguinte à corrida de Búzios, o tratamento chegou ao fim.

Augusto segue com o acompanhamento médico de rotina a cada seis meses para o monitoramento da saúde, e em 2015 se aventurou pela primeira vez em um short triatlo. “Fiz a prova mais por curiosidade. Como sempre nadei na adolescência, resolvi experimentar”, diz. Ele e os amigos da sua equipe de treino alugaram um ônibus e foram para a prova, disputada em São Carlos, no interior paulista.

Hoje posso dizer que a corrida me ajudou a passar por essa fase difícil da doença. Até os médicos reconheceram a importância de eu ter uma vida saudável para superar esse problema, que é tão grave. Hoje tenho consciência que o esporte salvou minha vida. Pretendo continuar correndo”.

Vida que segue
Confira três conselhos da oncologista Christiane Couri Freire para lidar com uma doença séria

  1. Acredite que sue estilo de vida não será totalmente modificado e que a doença é apenas uma parte de você.
  2. Insira a doença na sua rotina e não se afaste dos hábitos que lhe dão prazer. Mesmo que às vezes você tenha que se obrigar a fazer algo, faça. Depois você irá se sentir melhor.
  3. Leve uma vida saudável e, sempre com supervisão, movimente-se. Fique cercado de pessoas queridas.