Com doença autoimune, mulher reaprende a andar e volta a correr

Por Daniela Fescina

reaprende a andar e volta a correr
Adriana tem espondilite anquilosante, mas não desistiu da corrida. Foto: Diego Cagnato/Runner's World

Adriana Duvivier é daquelas corredoras “fora da curva”. Os 5 km ela faz em um pace de 4min/km. Difícil imaginar que uma amadora desse calibre tenha que superar uma doença autoimune e degenerativa para correr. Mas ela faz isso dia após dia e ainda precisou reaprender a andar depois de uma grave lesão. 

O nome da doença da Adriana é espondilite anquilosante. Quando começou a correr, ela sentia muita dor nos ossos da bacia e teve que interromper os treinos por um bom tempo. Até que em 2014 teve o diagnóstico do problema e passou a aplicar semanalmente uma injeção de um imunossupressor. “Aos poucos fui retomando. No início, apenas uma vez por semana, só para extravasar. Aí comecei a curtir de novo, e passei para duas. Um amigo me chamou para correr e adicionei mais uma corrida à semana. Hoje treino quatro vezes, e às 5h30 já estou de pé para treinar”, conta a profissional de marketing.

Em janeiro deste ano, aproveitando as férias, ela viajou com os filhos para o Chile. Em uma caminhada pelo nevado vulcão Osorno, pisou de mal jeito sobre o pé direito quando estava no topo da montanha. Com dor no tornozelo e mal conseguindo andar, não havia opção: para ser atendida, precisava voltar ao pé do vulcão, em uma trilha mais sofrida que qualquer corrida que já havia participado.

O diagnóstico de uma fratura no talus (osso intra-articular que une a perna ao pé), aliado ao rompimento de dois ligamentos e outros três com lesões mais leves, não foi nada animador: além da cirurgia, existia a possibilidade de que Adriana não conseguisse voltar a praticar o esporte que ama. “Coloquei dois pinos que não são removíveis”, diz a corredora. “Tive que reaprender a andar.”

Amizade, positividade e assessoria

Para se recuperar da lesão, Adriana, que completou 46 anos eme outubro, contou com grande ajuda da família, dos amigos e do treinador, além da própria força de vontade. “Meu treinador, o Ademir Paulino, foi fundamental na minha volta às pistas. Acho que foi a união de positividade, resiliência e a assessoria dele”, conta a corredora, que não tira o sorriso da cara nem para falar de um dos momentos mais difíceis da sua vida.

Outra pessoa importante em sua recuperação – e também nos demais momentos da sua trajetória – foi a fisioterapeuta e amiga Viviani Torres. Elas se conheceram há dez anos por conta da relação profissional, mas, com o tempo, o apoio mútuo e o alto astral com que as duas passam pelos desafios fizeram delas grandes amigas.

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Correndo por empatia

Foram quatro meses sentada em um sofá com o pé para cima até que Adriana voltasse aos treinos. Não tardou para que ela retornasse às provas, surpreendendo pelo ritmo forte mesmo depois de uma lesão tão séria. Terceiro lugar entre as mulheres na Track & Field Run, em agosto de 2017, a corredora voltou a se aproximar dos 20 minutos em provas de 5 km.

Inspirada pelo desempenho da amiga, Viviani teve a ideia de aliar o esporte a uma causa. Ela é mãe da Giulia, uma menina de 5 anos que tem fibrose cística. E resolveu juntar um grupo de familiares e amigos de pessoas que portam a doença e participar de uma prova em São Paulo – e, assim, aumentar a atenção para a fibrose cística. “É uma guerreira. As duas são”, diz Adriana, sobre mãe e filha.

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Adriana e a fisioterapeuta Viviani. Apesar de ser portadora de uma doença degenerativa e ter sofrido uma grave lesão, Adriana nunca pensou em parar de correr. Ela treina cada vez mais forte e ajuda os outros por meio do esporte. Foto: Diego Cagnato/Runner’s World

Em apoio à causa e à amiga, Adriana liderou o grupo e cruzou a linha de chegada em 5º lugar entre as mulheres, com o tempo de 20min35. 

“É difícil saber que você tem uma doença, mas é muito mais difícil saber
que seu filho a tem”, diz Viviane. “É por isso que eu preciso de pessoas fortes perto de mim, como ela [Adriana] é”, completa, emocionada. 

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Entenda: corrida e fibrose

A fibrose cística é uma doença genética cujo órgão mais afetado é o pulmão. Como no caso de um fumante, quem é afetado por ela apresenta dificuldades para soltar secreções e oxigenar o sangue. Segundo Viviani, “a corrida complementa o tratamento” para portadores da fibrose cística. A prática do esporte ajuda a liberar as secreções, limpando o pulmão e aumentando a eficiência respiratória. A hidratação é uma das questões mais importantes durante a prática de esportes para pessoas com fibrose cística. A doença faz com que eles se desidratem mais rapidamente e precisem ingerir líquidos constantemente. Para saber mais sobre a doença, acesse: unidospelavida.org.br.